segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Branco no branco





Comprar uma casa. Arrumar um namorado. Comprar um carro. Emagrecer. Arranjar um emprego melhor. Ter um filho. Ter mais um filho. Mudar de casa. Se aposentar. Ser promovido. Casar. Casar de novo. Se separar. Se separar de novo. Pintar um quadro. Fazer um cruzeiro. Escrever um livro. Escrever mais um. Contar uma piada para o guarda real Inglês. Fazer um bolo de aniversário para sua mãe. Aprender a andar de bicicleta. Comer mais salada. Andar de avião pela primeira vez. Ganhar na loteria. Conhecer o mundo inteiro. Conhecer a Europa. Conhecer o Brasil. Conhecer São Paulo. Reciclar mais lixo. Adotar um filhote abandonado. Passar de ano. Fazer mais exercícios. Aprender a nadar. Passar no vestibular. Comprar uma guitarra. Parar de fumar. Não jogar mais lixo na rua. Deixar o cabelo crescer. Comprar uma peruca. Gravar um clipe. Ganhar um sobrinho. Fazer uma tatuagem. Salvar um animal.  Salvar a si mesmo. Ver sua irmã casar. Ver seus pais casados por trinta e tantos anos. Ter um jantar romântico com a namorada. Jantar com um desconhecido. Jantar. Pedir carona na estrada. Fugir. Tirar 10 na prova de matemática. Conhecer o mar. Não esquecer o papel higiênico na viagem. Ajudar uma velhinha a atravessar a rua. Pichar o muro das lamentações. Fazer “cuecão” num lutador de sumô. Grudar um chiclete no cabelo do Slash. Grudar um chiclete no cabelo do Roberto Carlos. Fazer bunda lê lê no Palácio do Planalto. Pintar um bigode na Monalisa. Pular corda com os Sete Anões. Fazer um omelete com um ovo de Páscoa. Assistir  todos os O Senhor dos Anéis e Harry Potter em sequência. Dar rasteira no Saci. Tomar um litro de água benta. Beijar uma freira. Beijar. Plantar uma árvore. Plantar várias...

Promessas e crenças. Essas duas palavras movem os últimos 10 segundos do ano e os primeiros do que está chegando. São nestes pequenos momentos que cada um de nós deseja, como nunca; ávidos pela nova vida. Que esses sonhos perdurem no encanto do infinito e tragam, sempre, a felicidade.

Polandesamente falando: que no ano do 13 você consiga o que quer, seja quem quer ser. Não importa a forma e o como.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Variantes gastronômicas





Apertou com tanta vontade causando-lhe quase biópsia. ‘Esse tá muito  queimado’ – disse a si, devolvendo-o para a garçonete. Continuou pela larga vitrine analisando minuciosamente todas as opções. Pareciam tão iguais. Teria que escolher o mais apetitoso.
Seu dedo ansiava por destruição. Enfiou o largo polegar na maciez enquanto a garçonete o reprimia mortalmente com os olhos. ‘Hum, acho que tá perfeito... Vou levar’ – disse sorrindo. ‘Ah, vai mesmo!’ – pensou ela ao mesmo tempo que embalava o doce.
- O de sempre, Sr. Lobato? – perguntou a caixa
- Não, hoje vou experimentar o amarelinho - disse, o senhor, sorrindo
- Vinte e três reais.
- Quanto?
- Vinte e três reais – repetiu bondosamente
- Mas esse doce sempre custou dois e noventa! – reclamou indignado
- Ah, é que esse é um sabor diferente. Acabamos de lançar.
- Devia ter ficado com o de sempre – reclamou, Lobato, enquanto colocava o docinho, já sem gosto, na sacola.

Polandesamente falando: será que a variedade de sabores é apenas uma estratégia de mercado para aumento das vendas? O brasileiro tem necessidade do diferente, do novo? Será que as variantes não seriam intrínsecas ao homem; já que este necessita de criatividade e diversificação? Seria uma questão cultural?
A mistura de raças e crenças pode talvez ser a explicação para uma característica perceptível que o diferencia do mundo: o brasileiro é altamente criativo. Essa capacidade, por conseqüência, é realizada também com os alimentos? Composições inovadoras de chefs , gastrônomos e cozinheiros que geram curiosidade fazem com que os brasileiros tenham interesse em descobrir, experimentar. É aí que entra a diversificação de sabor. Exemplo simples: só a esfiha de carne habitava as prateleiras das lanchonetes. De tempos em tempos, visando destaque meio à concorrência, o cozinheiro criou novo sabor, para que com isso seus costumeiros clientes pudessem realizar possível compra agregada e, por consequência, experimentar a diversificação intrínseca.
Levanto uma questão primordial: é o capitalismo que cria uma cultura ou é a cultura do brasileiro que move o capitalismo?