domingo, 27 de fevereiro de 2011

Ah, o amor... (parte 6 de...)



Uma árvore secou, embora chovesse e estivesse enraizada. O Sol não lhe trazia alimento, ainda que acariciasse-lhe os contornos. De seu tronco enxuto, desprendeu-se relutante lágrima bruta a caminho do mar de sentimentos reclusos em sua dimensão.

Estava perdida, conquanto desde sempre tivesse vivido exatamente ali. Seus galhos mostravam direções, mas a incerteza de um caminho desconhecido prendia-lhe ao solo. Desejava sobremaneira voltar a ser a árvore invejável e imponente ao mundo. Ansiava novamente por seu mundo.

Segaram-lhe a vida, e a sobrevivência estava em sua complexidade de planta, mas fugia do calor do existir sem perceber, e quando este a encontrava, não iluminava sua trilha, era apenas clarão ofuscando seu destino. Essa mesma árvore, que antes fazia vivenciar, agora só vivencia resquício de uma vida sem sentido. As raízes que outrora guiavam-na constantemente para o sempre, servem agora apenas para não deixá-la extinguir-se no abismo da perdição.

Mesmo desfalecida, era muito especial para a floresta. Proporcionava alimento e a vida aos seres das cercanias. Notando tal situação, seus amigos animais incumbiram-se de ajudá-la a absorver mais uma vez o ânimo vital. Colheram as flores mais bonitas, envolvendo-a de cor; contaram com os sons mais agradáveis dos passarinhos para tornar suas manhãs melodiosas e fizeram um banquete com as frutas mais sacarinas.

Comovida pelo afável ato, prometeu que tentaria melhorar, e para mostrar-se grata, soltou uma última lágrima, mas dessa vez, elaborada.


Polandesamente falando: à vocês dois, que mesmo em metade quase perdida, deixaram as sinuosas raízes embrenhar-se em precioso alimento, nutrindo-se novamente de vida. À vocês, que com coragem, continuam sustentando o equilíbrio das emoções contidas na energia emanada por um só o coração: o amor.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Red Shop






Polandesamente falando: Red Shop. Para você que está no vermelho gastar sem preocupação.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Inteligente não desembolsa



Oito e trinta e três da manhã e já fazia mais de 30º lá fora. O conforto do ar-condicionado adquirido recentemente, tornava o simples pensamento de sair dali extenuante; foram muitas parcelas pagas, e varolizá-las, era questão de honra e orgulho.

O alarme estomacal soou e resolveu abafá-lo. Dirigiu-se à cozinha e abriu a geladeira. Nem leite nem manteiga. Nada. "Putz! Vou ter que sair nesse calor..." - pensou. Hesitou por um momento, mas a insistente reclamação de seu estômago era mais irritante que o mormaço terrestre do outro lado da janela.

Foi para seu quarto e jogou o pijama ao lado da cama. Por ele, trajaria não mais que uma cueca e um par de chinelos, mas o insucesso de sua forma física geraria burburinho na vizinhança e decidiu colocar ao menos uma bermuda e uma regata.

Saiu e fechou a porta. Atravessou a rua e uns poucos passos o levaram à padaria. O cheiro delicioso inebriava-lhe o olfato. Como gostava desse aroma de pão fresquinho! Decidido a atacar o carboidrato francês, sentou num banco alto e aguardou por instantes até que alguém foi atendê-lo.

- Pois não senhor? - Disse a garçonete do outro lado do balcão. Uniformizada e com um avental gigante sujo de farinha, segurava um bloco de pedidos, ou mais popularmente conhecido como comanda.

- É... um pão na chapa e um chocolate frio, muito gelado, tipo iceberg, sabe?

- Hahaha. Sei sim, senhor. Mais alguma coisa?

- Não.

- Ok. Num minuto já trago. - Retrucou a mulher entregando-lhe o papel com o valor dos pedidos.

Enquanto aguardava a refeição, girava a comanda para se distrair, até que analisou uma pequena, mas notável, "OBS." na parte inferior: "Favor devolver esta comanda no Caixa". Soltou um risinho malicioso e quando seu pedido chegou, comeu com mais gosto ainda.

Limpou a boca com as costas da mão peluda e dirigiu-se ao caixa.

- Próximo!

- Aqui - disse sorrindo e devolvendo o papel para a moça.

Sem olhar para trás e ignorando os gritos da mulher, saiu andando para o calor não tão infernal agora.



Polandesamente falando: bobo é quem não analisa e não pensa. Temos que ser espertos nesta vida, ou pelo menos, caras-de-pau.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Santa cópia


- Oi! Vocês tiram xerox de livros? - Perguntou um rapaz de forma bem tranquila, mas atrapalhada. As sílabas saíam compassadas e davam aflição como torneira aberta respingando. Não parecia ter nem 19 anos. Retirou de sua mochila transversal um livro e, com as mãos suadas e trêmulas, o depositou no balcão.

- Hum... preciso ver se tem direitos "autoriais", senão não posso copiar. - Falou o atendente com ar de superioridade e olhando para baixo. Magro e alto, seus cabelos cacheados combinavam com seu estilo latin lover e com o pequeno pega-rapaz que cruzava-lhe a testa grande.

- Se tem o quê? Falou o menino.

- Dá aqui! - Disse o atendente, puxando do balcão para si o exemplar do "Estudando Catequese". Analisou cuidadosamente as primeiras páginas da obra e não encontrou nada.

- Ah, me fala aí as páginas que precisa que eu tiro.


Polandesamente falando: xerox de obras impressas, literalmente um pecado.