quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Infelicidade




Esses dias notei um grupo de moradores de rua reunidos em uma praça da zona oeste de São Paulo. Roupas simples, judiadas e sujas. Em uma mesa providenciada no hall de terra uma única sacola. Talvez um pouco de pão para dividirem mais tarde. Dançaram protegidos pelo teto de folhagens. Um samba simples, letra própria. O músico batucava, um, parado, cantava, outro sentado apreciava e, por fim, o sambista ensaiava.
A cultura e o dom esconderam a tragédia não percebida pelos homens. Não se importavam com as buzinas e roncos das máquinas ou órgãos, estavam poetizando. Para eles, haviam finalmente transformado a vida em vida.

Polandesamente falando: mais infeliz do que não saber o que é a felicidade, é não perceber a alegria plena nos que sofrem sem sentir.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Avenida estrangeira



  
Que todo mundo já viu de tudo nela já viu sim. É trabalho, lazer, exercícios, consultas, compras, cultura e, principalmente, é famosa por sua liberdade de expressão. Até morador tem. Mais de duzentos mil camuflam-se meio a tanta economia, janela e altura.

Os dois mil e setecentos quilômetros mais valorizados e importantes do Brasil também são famosos por seu conhecimento popular. Seja você do Gurupi ou de Pelotas. Da Consolação ou Paraíso.

Curiosamente a avenida que nunca pára, pára para a desinformação. Já repararam? Algumas pessoas que dizem conhecê-la na verdade perdem-se por tantas ruas e sentidos. Diariamente vejo, quando não sou abordada, pelo menos duas parando outras para perguntar onde é uma rua ou o metrô “x”. Eu que trabalho lá fica um pouco mais fácil de tentar entender por que tem tanta gente ainda que não sabe “andar” na Paulista. Qual seria a complicação? São ruas com nomes, faróis, esquinas, pessoas e carros, como outra qualquer.

E nesta confusão até a polícia brinca de Sherlock. Sejam pistas ou vestígios desvendar o mistério do seu destino final parece estar mesmo na mão de desconhecidos.

Polandesamente falando: até os estrangeiros conhecem mais a avenida que nós mesmos.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Bom de matemática



- Pra onde? – perguntou o taxista
- Rodoviária – retrucou o passageiro

O carro deslizou pela estrada de asfalto como jogador de tênis esforçando-se para alcançar a bola no fundo da quadra de saibro e marcar o último ponto para a vitória.
- Quanto tempo até lá? – continuou o passageiro
- Ah... uns dez minuto se o trânsito tive bom.
- O senhor não vai ligar o taxímetro?
- Não – respondeu prontamente o motorista – Até lá é cinquenta
- O quê?
- Cinquenta real.
- Tá, maluco, cara?
- Não... eu sei o preço e até lá é cinquenta real.
- Você tá doido que eu vou pagar tudo isso! – respondeu no banco traseiro, indignado
- É o preço da região – complementou



Polandesamente falando: no interior a moda não é passar creme na mão ressecada  enquanto o tráfego não se move, é ser bom de matemática. 

sábado, 4 de janeiro de 2014

Ah, o amor... (parte 13 de...)





Chegaram ao restaurante. Uma pequena pausa na estrada não atrapalharia o restante da viagem. Estavam extremamente felizes por darem-se um tempo, esquecer as regras da vida e apenas curtirem a deles. A vida que os uniu. Desceram do carro de mãos dadas e seguiram abraçados até a entrada.
- Mesa pra dois? – perguntou o garçom, recepcionando-os.
- Sim, por favor, a melhor mesa da casa. Estamos comemorando nosso 10º aniversário de casamento – complementou o homem com largo sorriso.
- Ah, parabéns! – replicou o atendente - Vou conduzi-los à área VIP. Sigam-se, por favor.

O casal caminhou poucos metros até à área exclusiva. Não tinha nada de requintado, era apenas mais longe do calor da cozinha e dos demais clientes. Escolheram uma das três mesas reservadas e sentaram-se. Olhando o cardápio com atenção, a mulher pediu para os dois:
- É... vamos querer o risoto com picanha ao molho de ervas e vinho branco.
- Só temos refrigerante e sucos naturais. O que preferem?
- Ok, pode ser Coca então.
- Sim senhora. Volto já com as bebidas.

Olharam-se satisfeitos com o pedido, estavam famintos. O homem decidido, adiantou-se:
- Querida, obrigada por todo esse tempo que estamos juntos. Ainda te amo como antigamente.
- Eu também te amo, meu amor.

E cada um pegou seu celular do bolso.



Polandesamente falando: havia o famoso “preciso de tempo para os amigos, para a cerveja e o futebol ou para as amigas, para as compras e novela” para nos sentirmos individuais enquanto nos relacionamos, não esquecermos nossos hábitos, não deixarmos de fazer o que gostamos em nossa vida conjunta. Hoje temos mais um “vilão” que passa despercebido, pois já virou hábito. Um ato comum aos dois sexos. Podemos nos acostumar e adaptar os relacionamentos daqui pra frente, porém sempre existirá o próximo e o próximo da velocidade tecnológica que nos massifica ao individual e isolamento. O casais tendem a cada vez menos encontrar o famoso “tempo pra gente”. Só o verdadeiro amor e a mais firme consciência os ajudará nesta luta. 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Na rotina



Polandesamente falando: post especial de ano novo, o Coelho da Páscoa fazendo exame de urina.