domingo, 28 de novembro de 2010

Ah, o amor... (parte 4 de...)


Princípios de vida permeiam
A natureza bruta

Onde ossos anseiam
Por mais uma luta.


Resistentes ao inimigo tempo

Conceber conjunto deveriam
Dependentes de alento

Na incerteza desfaleceriam.


Esperançosos pelo novo viver

Empenham-se na regeneração
De sua alma soçobrada
Ideando solução.

Polandesamente falando: é preciso que o amor se torne um cadáver que nos sorri com verdadeiros dentes, pois as dentaduras só imitam um sorriso preenchido para esconder o vazio de nossa boca.

domingo, 21 de novembro de 2010

Tenha a bondade



Um rato oscilava pelo passeio sombrio. Há horas procurava substância nutritiva. A gélida noite soava lástima e com o roncar estomáquico do roedor hamonizava. A visão, já turva pelo cansaço, brindava-o com alucinações. O vento trazia possível fartura, e esperançoso, o animal aguardava. Logo, a extensão retilínea entre a comida e seus olhos encurtava e tornava-se mais um suspiro. Insistentes, suas patas continuavam deslizando.

Icontáveis passos deu, até que meia maçã rolou em sua direção. Parecia cessar a interminável busca. Contemplou a exígua fruta em imperceptível podridão. Tal foi seu contentamento que decidiu conduzi-la à um abrigo para assim assegurar a continuidade de sua existência.

Na jornada atemporal pela sobrevivência, adiante, um obstáculo. O rato stagnou-se e analisou o amontoado com aferro; pareceu-lhe humano. Aproximou-se e a certeza surgiu. Um homem. Envolto em trapos imundos e estirado no centro da calçada entrava em modorra. Os pelos que combriam-lhe a extensão eriçaram-se em repulsa, náuseas afloraram. Os humanos causavam-lhe aversão, contudo, não tinha forças para cruzar a rua. Atravessaria com cautela para não despertá-lo.

Aos poucos locomovia-se e analisava o morador do caminho público, que magérrimo e abatido, lacrimejava e tremia. A visão da mediocridade agitou o âmago de seu órgão pulsátil.

- Um rato... - Murmurou o homem em transe, percebendo o visitante e fazendo uma careta.

O pequeno mamífero ficou imóvel por um instante, e, em seguida, decidido, empurrou a maçã encostando-a na face do sem-teto. Olhou-o por um segundo mais e com celeridade afastou-se.

Ainda sonolento, o indigente balbuciou:

- Obrigado ratinho.


Polandesamente falando: agir com bondade é mais do que simplesmente fazer algo para agradar alguém. É abrir mão do que mais necessita, quando percebe que o que precisa é ajudar quem não tem consciência disso.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cirurgia bariátrica - Comodismo no mundo das comidinhas


Café-da-manhã, lanche... lanchinho, lanchinho, lanchinho. Almoço, lanche... lanchinho, lanchinho, lanchinho. Janta, lanchinho, lanchinho, lanchinho.

Quando pequeno sua mãe dizia: "Filhinho, você tem que comer para crescer e ficar forte", e desde então você seguiu o conselho sábio de sua inspiradora. Percebeu após anos que havia entendido errôneamente. Será que minha mãe era louca? Queria me encher até o tacho, causando-me um "Big Bang" arterial? Pensou. Para não se preocupar em falhar com a digníssima, nem com o que seu corpo necessitava, resolveu comer de tudo. E fez-se o problema. As extremidades horizontais insistiam em ser maiores que seu comprimento.

Já grande, o ritual continua o mesmo, mas não o peso. Aqueles números da balança não param de crescer. Nesta época você se arrepende de ter aprendido a contar. Diariamente, e, sem perceber, os carboidratos e açúcares misturam-se com o suco gástrico.

O tempo avança e com ele o consumo de suas energias. O cansaço domina seu corpo, mesmo em repouso. Um quarteirão de caminhada parece a São Silvestre. Não aguentando mais tal situação decide ir ao endocrinologista. Enquanto tenta entender o discurso do profissional sente uma vontade danada de comer um docinho. Tenta enganar o estômago engolindo saliva. Finalmente quando parecia ter acabado, ele te passa uma dieta e te explica que deverá reeducar sua alimentação. Reeducar? Mas eu já saí da escola há anos! Ok. Vou tentar, afinal não deve ser tão difícil assim.

No primeiro dia você está altamente empolgado com o desafio, segue exatamente o que indica o papel. Na segunda manhã começa o tormento. A maledeta vontade de comer doce. Um pedacinho só não deve ter problema. Pensa. E vai um pedaço hoje, mais um amanhã. As porções tornam-se barras e no fim do mês a bronca do doutor. Chateado e querendo se matar, mergulha na comida. E assim vão mais bons quilos para a perdida conta.

Desiste da dieta sem ao menos ter realmente tentado. Encontra uma opção mais viável. Seu colega de trabalho fez, seu vizinho, todo mundo está fazendo essa tal de cirurgia bariátrica. Você entra na fila, e, após meses de espera - em que poderia ter controlado o mastigar - recebe a informação de que finalmente é sua vez de ser saudável.

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Comodismo gastronômico. Facilidade prazerosa do comer sem se esforçar para vencer a balança. Ao contrário de uma batalha comum em que ganhar território e conquistar o inimigo é o propósito, você conquista os quilos do outro lado da linha da guerra para depois arrancá-los de ti, à força, parte de você vai embora, seu estômago. Não deveria ser quem conquista mais e sim quem perde mais homens "gordurentos" do jogo de cintura.

Você não sua para conseguir, o suor frio é o de gastar dinheiro com remédios e vitaminas para toda vida. A paciência em emagrecer de forma salubre é abafada pela ansiedade em ser uma projeção do seu ser perfeito. Delonga muito.

Polandesamente falando: o comodismo aniquila as dificuldades. Não existe empenho e a aventura de provar a si mesmo que é vencedor. O pior peso que se carrega é o da consciência que poderia ter sido diferente.