terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Pikachu da idade média





- Cê tá sabendo?


- Do quê?


- Dos caçadores.


- Caçadores?


- É, dos caçadores. Não ouviu?


- Ouviu o quê?


- O que estão falando por aí.


- O que estão falando por aí?


- Ai, você não presta atenção mesmo, né?! Estão falando que tem uns caçadores procurando pela gente.


- Pela gente?


- Sim.


- E o que eles querem?


- Fazer a gente de prisioneiro num outro lugar. Ouvi dizer que é quadrado... e virtual.


- Não! Quadrado não, por favor – disse amedrontado. - E por que alguém iria querer tirar a gente daqui? Tem tanta coisa melhor lá embaixo, olha – disse apontando com o braço para direita. Tem chiclete vermelho. Hum! Como gosto de chiclete vermelho! – falou animado.


- Pois é. Também não acreditei da primeira vez que ouvi, aí ontem tava falando com o Vitor, sabe, aquele que sempre bate a cabeça no teto quando pula?


- Putz se sei. Esse Vitor é muito tonto, meu. Já falei pra ele baixar a cabeça.


- Então, ele me contou que ontem tava lá quietinho esperando o jantar, daí de repente ele ouviu.


- O quê?


- Eles.


- Quem?


- Os caçadores.


- Não!


- Sim, estavam planejando vir aqui hoje e fazer... – e a frase foi interrompida pelo giro da maçaneta.

 

Polandesamente falando: não importa quanto antiga seja a brincadeira, sempre haverá caçadores por aí.

domingo, 11 de dezembro de 2016

NON DVCOR DVCO





Qual a sensação do pertencer? Ter uma família e ser amado? Relacionar-se com a sociedade e ser seu cidadão? Ter hábitos semelhantes a um grupo de pessoas? Morar e trabalhar em um local? 

E como pertencer se você não faz parte? Não fazer parte não por não querer, mas por querer ser igual. E por que “igual”? Por todo o conceito que “ser” significa para os homens. Você só é se tem uma classificação: numérica, locatícia, nominal.

Se a sociedade o define como não-cidadão é fadado à abstinência da dignidade de pertencer e se torna alheado para próprio mundo, crenças e regras sem a escolha que gostaria; oferta-se à fé da sobrevivência.


Polandesamente falando: não sou conduzido, conduzo-me à chance de ser em um mundo que me aprisiona.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Enegrece-se uma poesia



Na agonia da perda se encontra o desespero
Na busca pelo fim não se acha o recomeço

Se a luz recompensasse o pesar
O alívio transformaria dignidade em esperança
E do lamentar humano emergiria a animalesca vontade de reexistir

Polandesamente falando: a recompensa para a vida é a vida que se dá ao viver.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Ah, o amor... (parte 14 de...)






Dentre tantas mulheres apertadas, dentre tantas mensagens, rabiscos, memorandos, me ative a essas quatro linhas. Percebi que o bandeiro pode ser um psicólogo. Você, ali, sozinha, relaxada, só você e seus pensamentos, sentimentos. 


A porta do cubículo serve como bloqueio, um aparo do grito da necessidade de expor, desabafar. A porta não julga, não da feedback, não recrimina, apenas ouve, aceita, entende.


E depois de “conversar” com ela vem o alívio, resultado do processo de autoconhecimento. Não é lindo isso?



Polandesamente falando: o sentimento é tão incrível que é impossível prever a quantidade e maneiras de expressá-lo.

domingo, 27 de março de 2016

Se mochilas pudessem andar...







Uma mochila passeava com seu dono confortavelmente alocada em suas costas. O vento rebolava por seus contornos e refrescava-lhe enquanto Ele andava. Havia comido muito antes de sair de casa, a memória ia, vinha com o delírio da azia, mas recordava-se de ter beliscado alguns livros, canetas e uma pasta A4, por isso espremiam-lhe a pança no balanço da viagem.


Todos olhavam para Ele. Ela achava inusitado, pois não era do tipo galã e sempre passava despercebido. Quando o dono parou em um farol aguardando o sinal verde para atravessar ela ouviu alguém falar:


- Ei, você ta vendo isso?


- Eu? – respondeu, tentando ver de onde vinha a voz.


- É, você – retrucou outra mochila. Por que seu dono está fantasiado de The Flash?


- Ele está?


- Sim, você não está vendo? – respondeu o objeto de mesmo gênero.


A mochila contorceu o pescoço mais que a protagonista do Exorcista e viu uma roupa toda vermelha e amarela...


- Vixi... – soltou com um ar ressabiado. - Até anteninhas ele tem...


- Num disse? – caçoou a outra.


- Acho bom você avisar ele porque ta ridículo.



A mochila esperou seu dono se aproximar de um prédio espelhado e começou a se sacudir.  Se remexeu tanto que conseguiu fazer com que uma das canetas ainda não digeridas o espetasse. Ele parou, virou a cabeça 180º com olhar ranzinha para a amiga de alças, deu-lhe um tapinha em repressão e quando foi retornar a cabeça para posição original seus olhos perceberam o espelho improvisado. Olhou atentamente pelos pés, subindo concentrado pelo tronco, atento a todos os detalhes, chegando à cabeça e... continuou andando.




Polandesamente falando: se mochilas andassem, elas correriam para um curso de moda e jogariam na cara da sociedade seu conhecimento fashionista.

quinta-feira, 17 de março de 2016

A consciência rancorosa






(Que esse pensamento mude sua vida a tempo de poder desfrutá-la como deveria: livre)


Até onde vai o bloqueio da consciência? Como são formados os raciocínios inventivos, ilusões de um não-acontecimento? Por que crer na irrealidade quando o verdadeiro é conhecido? 

O rancor é ferida inveterável, é auto-negligência, é a digestão intragável do ser. A suposição negativa, quando forte, bloqueia vergonhosamente a atitude, paralisa a descoberta da verdade.

A crença cega bloqueia o perdão. Não se tranque em seu próprio pesadelo inventado. Aja enquanto ainda há tempo para aproveitar o tempo.


Polandesamente falando: o silêncio é o pior castigo para o perdão.