quarta-feira, 15 de junho de 2011

Romaria moderna



- Filha, acho que é um bom momento para você ir comigo e seu pai à romaria.

- Valeu, mas nem curto romã...

- Romã, minha querida? - a mulher balança a cabeça negativamente em lamentação a tamanho absurdo. - Você sabe o que é uma romaria?

- Ah, tem a padaria, que vende pão, a perfumaria, que vende perfume; então, tipo, a romaria não é uma lojinha que vende romã? Saca? Aquela frutinha meio vermelha e engraçada com bolinhas de sagu dentro?


Boquiaberta, a mãe faz uma careta, desaprovando a asneira de sua própria criação.

- Julia, Julia... você precisa frequentar mais a igreja! Romaria é um tipo de peregrinação em que você se dirige a um lugar sagrado, para pagar promessas, agradecer pelas coisas ou, simplesmente, por ser devoto. Tem gente que vai a pé, outros de carro... eu e seu pai vamos a cavalo.


- Cavalo? Que brega!

- É, ué! Seu tio Francisco vai nos emprestar.

- Tô imaginando aqui você e o pai com roupinhas santas de jockey... batinas cavalgando, hahaha, hilário!

- Engraçado será quando seus pedidos não forem atendidos. Você fica zombando de coisa séria, menina!


- Fico nada... - a garota solta um risinho e insiste - Tô imaginando vocês uniformizados com camisetas de "Jesus salva!" indo comprar romã na venda, hahaha!

- JULIA!

- Ah, qual é? Troço chato do caramba!

- É para o seu bem.

- Se eu disser que vou, você para de me encher?


- Sim... mas só se for no Torrãozinho.

- Quê?

- Seu meio de transporte. Pedi um a mais - a mulher abriu um enorme sorriso.

- Ah, vai se f... Não posso ir de avião? Tá no céu, é santo, pronto!

- Não querida, temos que seguir a tradição.

- Qual é, mãe!? Ninguém segue mais isso não! Se bobear vão transmitir ao vivo pela net, e, quer saber, vou é ver no celular. Haja saco pra ir nesse frio prum lugarzinho cheio de gente estranha e "romana". Aliás, deveria chamar Salvaria...

- Ai, Jesus amado... me salva! - finalizou a mãe.



Polandesamente falando: se as tradições modernizarem-se, continuarão sendo tradições? Modificações em padrões centenários causam descrença? A extrema devoção impede reformulações? Costumes religiosos são eternamente imodificáveis? Ou a crença, como um todo, é mais importante que a forma e as alternativas para consegui-la?

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