domingo, 21 de agosto de 2011

Ah, o amor... (parte 8 de...)


"Parabéns pra você... Nesta data querida... Muitas felicidades..." - cantavam.

Fechou ainda mais os olhos e, mentalmente, pediu: "Oi? Cê tá me ouvindo? Aqui é a Fernandinha da Rua dos Trabalhadores, sabe? Então, hoje é meu aniversário e aniversário é pra fazer pedido, né? Pelo menos era o que minha mãe dizia. Ah... nunca te peço nada, cê sabe, mas sei lá, queria sua ajuda nesse próximo ano... Vou fazer um pedido, certo? Sei que deve ter vários, mas pode dar prioridade pro meu? Sim? Lá vai então. Queria, quer dizer, quero encontrar um homem inteligente, divertido, engraçado e que me ame do jeito que sou. Pode ser? Ah, e que não tenha chulé e nem ronque. Ninguém merece... se não for pedir muito, claro. É... tenho mais alguns desejinhos básicos. Não, Fernanda, um só tá de bom tamanho!" - abriu os olhos e soprou a vela.

(3 meses depois...)

- Roberta?! Tô apaixonada! - dizia ao telefone. Sim, ele é tudo de bom. Tudo o que pedi a Deus e muito mais. Tãoooooo lindo!

- Mas, amiga, me conta, onde conheceu ele? "Ceis" já saíram?

- O Flávio é novo no meu trabalho. Ainda não saímos, mas relaxa; eu tenho um plano. Amanhã logo depois do expediente vou até a mesa dele e convido pra uma cerveja. Fato.

(No dia seguinte, quase no fim do horário comercial)

Fernanda arrumava suas coisas. Um olho organizava o material na gaveta e o outro supervisionava Flávio. As mulheres eram privilegiadas. Enxergavam tudo: as coisas da frente, as de trás, as dos lados e as que estavam até em outras cidades. Incrível. Concentrada, não percebeu o homem parado ao lado de sua mesa.

- Fernandinha? Queria falar com você...

- Ahãm... - pronuncionou, sem sequer virar a cabeça.

- A gente se conhece há 4 anos...

- Ahãm... (e o olho fixo na presa de social)

- Preciso botar isso pra fora...

- Certo...

Fernanda viu Flávio levantar-se e pegar sua jaqueta de couro.

- Gustavo, desculpa, tenho que ir nessa. Depois a gente se fala!

- Mas...

Ela já havia levantado. Andava apressada para alcançá-lo. Passou por alguns biombos e avistou-o. Cutucou seu ombro. Ele se virou.

- Oi? - sorriu o homem. Fernanda suspirou.

- Oi, Flávio! Tava pensando aqui... você é novo na empresa... o que acha de irmos tomar uma cerveja pra eu te explicar mais sobre os setores e tal?

- Pô, valeu, Fê, mas tô indo encontrar minha namorada - e saiu andando.

Fernanda, com cara de TPM, voltou irritada para sua mesa. Não era possível. Ele não tinha aliança. "Que mundo mais injusto", pensava. Ao lado de sua bolsa havia um bilhete com seu nome. Estranhou, mas sem paciência para descobrir o conteúdo, colocou-o no bolso da blusa e foi embora.

Já em casa, abriu a porta com força, batendo-a ao atravessá-la. Jogou o casaco na poltrona de canto e começou a andar em círculos pela sala. O papelzinho de Gustavo voou e caiu no centro do tapete.

- Merda! Merda! Merda! - resmungava. Sua raiva era tanta que chutou o primeiro objeto que viu pela frente. Azar, pois era a mesa de madeira mais dura já feita.

- Ai! Ai! Ai! - Sentou-se na poltrona, massageando o pé. Olhou para frente e notou o bilhete. Estava escrito: "Para Fernanda". Desdobrou-o e leu: "Querida Fernanda, faz mais de 4 anos que nos conhecemos. Você sempre foi uma pessoa especial e encantadora. Nos tornamos amigos e você sabe o quanto gosto de ti. Só que de uns tempos pra cá esse sentimento foi mudando. Preciso que você saiba. Não posso viver sem te dizer... eu te amo. Me dá uma chance de te fazer feliz?"

As palavras de Gustavo revolviam-se com o acontecido a pouco. Devaneou por uns 20 minutos. "Nossa, ele me ama...", disse finalmente a si mesma. Ele era uma pessoa incrível, um amigo querido... e só.

- Mas eu te pedi, poxa! - gritou para Ele, levantando-se, abrindo os braços e batendo-os contra o quadril em queixa.

- E exatamente assim o fiz - informou A voz. Fernanda achou estranho Ele estar falando com ela, mas nem ligou. Queria explicações. Respondeu:

- Fez nada! Fez errado isso sim! Eu gosto do outro, pôxa vida!

- Você não pediu direito, minha filha - retrucou bondosamente.

- Não pedi direito? NÃO PEDI DIREITO? Eu lembro muito bem! "...quero encontrar um homem inteligente, divertido, engraçado e que me ame do jeito que sou..." - repetiu o desejo feito.

- Sim, faltou um pequeno detalhe.

- Ah, é? Qual? - disse enraivecida.

- Que você o amasse também - finalizou O Sábio.


Polandesamente falando: o amor, vezes é triângulo, mas nem sempre equilátero. O maior desafio não é amar; é aprender a lidar com o amor.

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