Uma mochila passeava com seu dono confortavelmente alocada
em suas costas. O vento rebolava por seus contornos e refrescava-lhe enquanto
Ele andava. Havia comido muito antes de sair de casa, a memória ia, vinha com o
delírio da azia, mas recordava-se de ter beliscado alguns livros, canetas e uma
pasta A4, por isso espremiam-lhe a pança no balanço da viagem.
Todos olhavam para Ele. Ela achava inusitado, pois não era
do tipo galã e sempre passava despercebido. Quando o dono parou em um farol
aguardando o sinal verde para atravessar ela ouviu alguém falar:
- Ei, você ta vendo isso?
- Eu? – respondeu, tentando ver de onde vinha a voz.
- É, você – retrucou outra mochila. Por que seu dono está
fantasiado de The Flash?
- Ele está?
- Sim, você não está vendo? – respondeu o objeto de mesmo
gênero.
A mochila contorceu o pescoço mais que a protagonista do Exorcista e viu uma roupa toda vermelha
e amarela...
- Vixi... – soltou com um ar ressabiado. - Até anteninhas ele
tem...
- Num disse? – caçoou a outra.
- Acho bom você avisar ele porque ta ridículo.
A mochila esperou seu dono se aproximar de um prédio espelhado
e começou a se sacudir. Se remexeu tanto
que conseguiu fazer com que uma das canetas ainda não digeridas o espetasse.
Ele parou, virou a cabeça 180º com
olhar ranzinha para a amiga de alças, deu-lhe um tapinha em repressão e quando
foi retornar a cabeça para posição original seus olhos perceberam o espelho
improvisado. Olhou atentamente pelos pés, subindo concentrado pelo tronco,
atento a todos os detalhes, chegando à cabeça e... continuou andando.
Polandesamente falando: se mochilas andassem, elas correriam
para um curso de moda e jogariam na cara da sociedade seu conhecimento fashionista.
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