domingo, 27 de março de 2016

Se mochilas pudessem andar...







Uma mochila passeava com seu dono confortavelmente alocada em suas costas. O vento rebolava por seus contornos e refrescava-lhe enquanto Ele andava. Havia comido muito antes de sair de casa, a memória ia, vinha com o delírio da azia, mas recordava-se de ter beliscado alguns livros, canetas e uma pasta A4, por isso espremiam-lhe a pança no balanço da viagem.


Todos olhavam para Ele. Ela achava inusitado, pois não era do tipo galã e sempre passava despercebido. Quando o dono parou em um farol aguardando o sinal verde para atravessar ela ouviu alguém falar:


- Ei, você ta vendo isso?


- Eu? – respondeu, tentando ver de onde vinha a voz.


- É, você – retrucou outra mochila. Por que seu dono está fantasiado de The Flash?


- Ele está?


- Sim, você não está vendo? – respondeu o objeto de mesmo gênero.


A mochila contorceu o pescoço mais que a protagonista do Exorcista e viu uma roupa toda vermelha e amarela...


- Vixi... – soltou com um ar ressabiado. - Até anteninhas ele tem...


- Num disse? – caçoou a outra.


- Acho bom você avisar ele porque ta ridículo.



A mochila esperou seu dono se aproximar de um prédio espelhado e começou a se sacudir.  Se remexeu tanto que conseguiu fazer com que uma das canetas ainda não digeridas o espetasse. Ele parou, virou a cabeça 180º com olhar ranzinha para a amiga de alças, deu-lhe um tapinha em repressão e quando foi retornar a cabeça para posição original seus olhos perceberam o espelho improvisado. Olhou atentamente pelos pés, subindo concentrado pelo tronco, atento a todos os detalhes, chegando à cabeça e... continuou andando.




Polandesamente falando: se mochilas andassem, elas correriam para um curso de moda e jogariam na cara da sociedade seu conhecimento fashionista.

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