domingo, 13 de fevereiro de 2011

Inteligente não desembolsa



Oito e trinta e três da manhã e já fazia mais de 30º lá fora. O conforto do ar-condicionado adquirido recentemente, tornava o simples pensamento de sair dali extenuante; foram muitas parcelas pagas, e varolizá-las, era questão de honra e orgulho.

O alarme estomacal soou e resolveu abafá-lo. Dirigiu-se à cozinha e abriu a geladeira. Nem leite nem manteiga. Nada. "Putz! Vou ter que sair nesse calor..." - pensou. Hesitou por um momento, mas a insistente reclamação de seu estômago era mais irritante que o mormaço terrestre do outro lado da janela.

Foi para seu quarto e jogou o pijama ao lado da cama. Por ele, trajaria não mais que uma cueca e um par de chinelos, mas o insucesso de sua forma física geraria burburinho na vizinhança e decidiu colocar ao menos uma bermuda e uma regata.

Saiu e fechou a porta. Atravessou a rua e uns poucos passos o levaram à padaria. O cheiro delicioso inebriava-lhe o olfato. Como gostava desse aroma de pão fresquinho! Decidido a atacar o carboidrato francês, sentou num banco alto e aguardou por instantes até que alguém foi atendê-lo.

- Pois não senhor? - Disse a garçonete do outro lado do balcão. Uniformizada e com um avental gigante sujo de farinha, segurava um bloco de pedidos, ou mais popularmente conhecido como comanda.

- É... um pão na chapa e um chocolate frio, muito gelado, tipo iceberg, sabe?

- Hahaha. Sei sim, senhor. Mais alguma coisa?

- Não.

- Ok. Num minuto já trago. - Retrucou a mulher entregando-lhe o papel com o valor dos pedidos.

Enquanto aguardava a refeição, girava a comanda para se distrair, até que analisou uma pequena, mas notável, "OBS." na parte inferior: "Favor devolver esta comanda no Caixa". Soltou um risinho malicioso e quando seu pedido chegou, comeu com mais gosto ainda.

Limpou a boca com as costas da mão peluda e dirigiu-se ao caixa.

- Próximo!

- Aqui - disse sorrindo e devolvendo o papel para a moça.

Sem olhar para trás e ignorando os gritos da mulher, saiu andando para o calor não tão infernal agora.



Polandesamente falando: bobo é quem não analisa e não pensa. Temos que ser espertos nesta vida, ou pelo menos, caras-de-pau.

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