Apertou com tanta vontade causando-lhe
quase biópsia. ‘Esse tá muito
queimado’ – disse a si, devolvendo-o para a garçonete. Continuou pela
larga vitrine analisando minuciosamente todas as opções. Pareciam tão iguais.
Teria que escolher o mais apetitoso.
Seu dedo ansiava por destruição. Enfiou o
largo polegar na maciez enquanto a garçonete o reprimia mortalmente com os
olhos. ‘Hum, acho que tá perfeito... Vou levar’ – disse sorrindo. ‘Ah, vai
mesmo!’ – pensou ela ao mesmo tempo que embalava o doce.
- O de sempre, Sr. Lobato? – perguntou a
caixa
- Não, hoje vou experimentar o amarelinho -
disse, o senhor, sorrindo
- Vinte e três reais.
- Quanto?
- Vinte e três reais – repetiu bondosamente
- Mas esse doce sempre custou dois e
noventa! – reclamou indignado
- Ah, é que esse é um sabor diferente. Acabamos
de lançar.
- Devia ter ficado com o de sempre –
reclamou, Lobato, enquanto colocava o docinho, já sem gosto, na sacola.
Polandesamente falando: será que a
variedade de sabores é apenas uma estratégia de mercado para aumento das vendas?
O brasileiro tem necessidade do diferente, do novo? Será que as variantes não
seriam intrínsecas ao homem; já que este necessita de criatividade e
diversificação? Seria uma questão cultural?
A mistura de raças e crenças pode talvez ser
a explicação para uma característica perceptível que o diferencia do mundo: o
brasileiro é altamente criativo. Essa capacidade, por conseqüência, é realizada
também com os alimentos? Composições inovadoras de chefs , gastrônomos e cozinheiros que geram curiosidade fazem com
que os brasileiros tenham interesse em descobrir, experimentar. É aí que entra
a diversificação de sabor. Exemplo simples: só a esfiha de carne habitava as prateleiras
das lanchonetes. De tempos em tempos, visando destaque meio à concorrência, o
cozinheiro criou novo sabor, para que com isso seus costumeiros clientes pudessem
realizar possível compra agregada e, por consequência, experimentar a
diversificação intrínseca.
Levanto uma questão primordial: é
o capitalismo que cria uma cultura ou é a cultura do brasileiro que move o
capitalismo?
Sandra,
ResponderExcluirParece-me que a falta de vontade e a convicção na melhora do atendimento em geral, termina por "obrigar" as rede de lojas e serviços à tentativa de compensar no produto. Como se esse encantamento pelo produto fosse suficiente. Fico imaginando por que não as empresas de serviços e varejo não investem em valores que resultam numa "economia do obrigado" - para usar uma expressão de um estudioso americano.
Agora, a pergunta que encerra seu texto é muito espinhosa. E acredito que muita gente na academia brasileira, sobretudo das áreas de economia e sociologia, estão pensando nesse problema.
Precisamos voltar a ler Marx e todo pensamento que se origina do pensamento desse teórico....
Volto para mais uma intervenção...se me permite..
Bjo.
A.