domingo, 3 de abril de 2011

Especial de Férias. Há lagoas (com) palavras. Day 1: Voo 3472 com destino à Maceió


Uma pedra de gelo pressionava seu estômago. Não pelo clima afora, ou a saudade que a pouco começaria a brotar, mas pela ânsia de emoção. Olhou para trás uma vez mais e sorriu com gosto para seus amados pais, que tão benevolentes a acompanharam até ali. Haviam acordado muito cedo, ou nem dormido, na verdade. Deu um passo à frente. Estava iniciada a caminhada para a aventura inédita.

Passar pelo detector de metais era demasiado divertido quando se assistia numerosos filmes de ação. “Apita pra eu te xingar! Apita pra eu te xingar!” Mas, nada. Teria que se contentar em palavrear obscenidades às cancelas de mercado e shoppings mesmo.

Enquanto caminhava pelo aeroporto (que ficava depois da put... q... iu), observava as diferentes famílias. Casais de idosos, jovens em lua de mel, crianças com seus pais, que corriam, gritavam e corriam. “Eita pique do caramba! Na minha época, às 4 e pouco da manhã eu estaria morrendo de sono. Falando nisso, eita SONO do caramba! Por que eu fui me lembrar disso? Esquece isso, oras!” Sua altura privilegiada a permitia ter uma visão geral da multidão desconhecida, ao mesmo tempo tão próxima pelo mesmo fim.

Chegou ao portão de embarque indicado. “E lá vamos nós!” – com a mesma empolgação que os desenhos do Pica-Pau. Incrível como simples números e suas combinações fazem de um tal local, um não outro qualquer.

- Atenção passageiros do voo 3472 com destino a Maceió...

O alto-falante anunciou a aventura de pensamentos. A garota, arranjos de ideias, sua mochila e o destino, embarcaram.

Sentou na poltrona indicada ansiando relaxar...

- Senhor Valter Antônio, favor identificar-se – disse a aeromoça, que de moça não tinha nada. (Se bem que nem o “leite Moça” tem, até aí...)

Aceitou os fones de ouvido oferecidos na esperança de fazer a funcionária que gostava de leite condensado fechar a matraca. “Caraca! Quem colou isso? Aposto que foi o Valter Antônio. Por isso que não tá no avião. Ficou colando todos os fones do mundo. Maldito!”

Com a dificuldade sanada por sua incrível habilidade Macgyver em manuseio de materiais auditivos, finalmente colocou-os. The Beatles cantavam “a Jude”, mas ela era muito difícil e não caiu em seus charminhos sonoros.

- Bom dia! Meu nome é Sandra e sou chefe de cabine deste vôo... “Coitada.”

Batucando na janela, esperava a decolagem. Era o ganhar do mundo numa reta asfaltada. Assim como o avião, seu coração acelerou no breu gasoso. O barulho da turbina abafava a pobre Jude. “Uiiiiiiiiiiiiiiip!” Ela adorava essa parte. Pensava no cabelo Ianomami da índia musicalizada, onde num show a pouco escutara tão claramente. Pensava em seus amigos, na sua família tão amada. Pensava na sua banda favorita, que no mês seguinte estaria presente em sua cidade.

Sowing seeds of Love complementava suas divagações. Trilha melhor não havia. Seus pensamentos eram embaralhados pela mistura de sensações. Apesar do sono e cansaço por não ter dormido, não conseguia descansar as retinas, e também não tinha vontade. Olhou ao redor. Os outros passageiros adormeciam.

O chacoalhar causava-lhe enjoos. John Mayer (“que rádio legal!”) tentava salvá-la com sua (dela, na verdade) Heartbreak Warfare enquanto olhava para baixo através da pequena janela. Um novo verde formava-se pela bela luz estrelar. Os 26ºC brindavam sua chegada.

- Tripulação, pouso autorizado – disse o comandante. - Tempo de chegada estimado em 15 minutos, isso se não tiver congestionamento. (Ok, a parte após a vírgula foi invenção da garota)

Saindo do pássaro metalizado, caminhou até o carrossel de bagagem. Mesmo em férias, as pessoas corriam para as esteiras. “Gente, calma!” Não se davam conta que, como numa rua sem saída, o encontro com o final é exato. Amontoavam-se feito comemoração (em boteco) de gol do Brasil em Copa do Mundo. A garota, paciente, aguardava passos atrás por sua coletânea de pertences. “Olha minha mala ali!” A bagagem magenta com fitas coloridas e floridas era inconfundível.

Chegando finalmente em seu hotel, depois de intermináveis, mas agradáveis horas, jogou-se na cama. O vento gostoso do ar-condicionado acariciava sua pele quente. Usufruía deste artifício em São Paulo, mas nos dias de extremo calor não notava a santidade do objeto. Agora, em Maceió, onde geralmente fazia 34ºC à sombra, entendia o milagre desta invenção. Imaginando o que passaria na rua, aproveitou um minuto mais a sensação. Trocou as calças de sarja por algo mais apropriado ao local e refrescou-se como pôde na pia. Colocou seus óculos escuros e saiu.

“Esquerda ou direita? Sempre gostei mais de andar na direita.” Já na avenida beira-mar - em Ponta Verde -, onde o mar literalmente justificava a bela cor, caminhou pela ventania ondulada. Seu destino incerto tinha apenas um propósito: apreciar a paisagem.

Conforme andava, analisava os diversos tons de pele, as alturas similares e o sotaque característico. Alegre que só, caminhava pela avenida principal apreciando o vento, o Sol, o cheiro de férias e os belos coqueiros. Uma voz repentina, ouviu:

- Bateram na mulher! Bateram nela!

A garota virou-se para compreender a cena. Um morador de rua gritava ao trio de policiais uniformizados. Suas roupas cor de areia molhada proporcionavam uma sensação de sauna. “Ô, calor!” Os fardados, desconfiados, não se mexeram de imediato. Insistente, o indigente adicionava:

- É, o cara de moto bateu nela! Bateu na mulher e saiu correndo!

A garota, tomando um cuidado a mais, decidiu sair dali rapidamente. Ao Sol do meio-dia era humanamente – com exceção do povo local – impossível para uma paulistana cor de leite de soja prosseguir, afinal faltava a outra metade de sua jornada diária. Decidiu apreciar um belo açaí. “Será que tem tamanho mastodôntico? Será que eles colocam macaxeira, tapioca, camarão e bolo de rolo tudo junto?”

Será?

Polandesamente falando: day one, complete. Quer saber mais?

4 comentários:

  1. Não vejo a hora de ler a continuação. Tá muito legal.

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  2. Queria estar aí, mas a Europa que nos aguarde.
    Yuri

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  3. MUITO BEM hermanita!

    Que essa seja a primeira de muitas histórias!

    Divirta-se muito!!!

    Tá muito bom o texto (meio longo mas bom)

    Beijo enorme

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  4. AAAAAaaaaa Mocinhaaa aproveita viu..bjusss

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