segunda-feira, 4 de abril de 2011

Especial de Férias. Há lagoas (com) palavras. Day 2: Marca registrada


A xícara estava metade vazia. Apertou o botão. O filete marrom saía em gotas. “Legal!” Tentou a outra garrafa. “Não tem jeito. As forças do além amaldiçoaram as segundas-feiras de todos os estados deste país.” Nem pingos desta vez, apenas a tampa suja com o líquido branco habitava o recipiente. O guardião uniformizado da fome matinal veio salvá-la:

- Leite e café, moça?

“Não seria café com leite? Se inverter não faz sentido; seu criminoso da primeira refeição do dia! É como colocar a Julieta antes do Romeu. Não orna na pizza, meu bem, só na música da Daniela Mercury.”

- Sim, por favor – disse por fim, completando-a de leite e café (“se ele faz tanta questão...”)

Andou até sua mesa e depositou o pires sobre a toalha estampada. A harmonia das cores alegrava ainda mais o momento. Tomou um gole e mordiscou um pedaço de pão com manteiga de garrafa. “Hum, delícia!” Como gostava do café da manhã, especialmente o de hotéis. Eram pães, bolos, leite; tudo que se imagina, e naquela cidade não seria diferente. Ovos cozidos, queijo de coalho, purê de macaxeira com carne de sol, torta de aipim, tapioca feita na hora, suco de umbu, cajá, etc.

Coragem para experimentar até tinha, mas o estômago embrulhado, como presentes sensíveis envoltos em plástico-bolha, a fez optar pelo básico mesmo. Não comeu em seu ritmo de tartaruga, pois pouco tempo lhe restava antes da chegada do ônibus, mas o horário que tinha, permitiu-lhe apreciar os alimentos e a vista da piscina defronte.

Após terminar a refeição, sentou-se no sofá do hall. Era cedo, não passava das 7:10, mas o calor intensificava-se. Enquanto aguardava, via as notícias locais. Um grupo de delinqüentes havia explodido um caixa eletrônico no bairro vizinho. “Até aí, normal!” Em sua cidade natal acontecia com freqüência, mas não com fogos de artifício. “O quê? Os bandidos querem comemorar o crime antes mesmo de finalizá-lo? Ou estão em busca de uma rica explosão de alegria?”

- Bom dia! – gritou a mulher de amarelo, cortando seus pensamentos. - Vamos lá?

“Não. Vou ficar aqui esperando pela próxima aventura dos assaltantes. Talvez após outro roubo saiam voando em balões de gás hélio para quem sabe pegar uma prisão mais leve.”

- Vamos, claro! – respondeu a moça, entrando no veículo.

Não deu tempo para um dorme/acorda, muito menos daria para atravessar a Paulista. Haviam alcançado a parada “santa”. O movimento das rodas cessou dando vista à igreja no alto do morro. Era hora de descer.

- Óia o colarzinpusera! – dizia o vendedor ambulante aproximando-se da garota. - Compra o colarzin, puquê é abençoado!

“Hein? Abençoado?” Como se estivesse escutado, confirmou:

- É abençoado, moça. Tu pega as sementinha e joga de cima do morro depois que fizer 3 deseju. Tome aqui! – falou, puxando a mão da visitante e depositando as unidades vermelhas bem ao centro.

- Quanto é? – rebateu a jovem, enquanto guardava sua bênção na bolsa.

- É dois pu dez e a bênção di graça! Mas, pega logo que tá acabanu, visse?

“Tá acabando o quê? A bênção ou as bijus?”

O braço do rapaz estava repleto de correntes, pulseiras e anéis.

“Não tô precisando de nenhum milagre mesmo.”

- Acabando? Puxa... – falou ironicamente.

As bijuterias eram realmente muito bonitas e bem feitas. “E ainda vem com milagre!”

- Me dá um colar e uma pulseira, então.

Guardou as compras e voltou para o ônibus. Em sua janela passavam lagoas, coqueiros, favelas, mansões e o porto. Após contados 26 minutos, finalmente chegaram na praia dos Franceses.

Nas areias de escargot, dois senhores de quase 1,50 cm cada começaram a cantar. A famosa repente nordestina ganhava os mares e a barraca à sua frente. O casal da mesa ria com as frases rápidas – às vezes bobas, ainda assim, inteligentes - de humor.

(E essa moça aqui, que de Sumpaulo deu partida, é tão bonita que dá até ferida...)

Olhava o mar verde e o céu azul, e quando este ficou nublado, estranhou. A sombra de um homem tapava sua visão.

- Vamu fazê uma tatuagi? – questionou o vendedor de pele dourada e cabelos queimados.

A garota olhou para cima analisando o volumoso mostruário. “Será que...”

- Tem de panda? “Duvido!”

- Tenhu duas. Dêrra eu ti mostra – e começou a folhear a barsa dos pigmentos.

“Juuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuura?”

Incrédula, abriu um enorme sorriso. Era a primeira vez que havia encontrado “hena chinesa”. Olhou as opções e escolheu de prontidão. O rapaz copiou o desenho em um papel de seda e disse:

- Onde vai querer?

- Aqui nas costas.

O homem passou o esboço para a pele de sua cliente.

- Vai doer? – perguntou rindo.

- Ah, são só umas picadinhas de leve.

“Juuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuura? Mas hena não dói! Pode ir parando já, seu caranguejo satânico!”

Não sentiu incômodo algum, muito menos dor; afinal, estava fazendo sua primeira tatuagem. De mentira? Sim, mas pelo menos não era de pacote de salgadinhos.

- Prontu. Aqui tá sua lembrança diMaceió.

“Você não faz nem ideia, moço...”

Polandesamente falando: day two, complete. Quero uma tatoo (de panda) de verdade!

Um comentário:

  1. Que bom que tá aproveitando. É muito bom conhecer "gente" e lugares. É muito gostoso ler o que voce escreve. Realizar um sonho, um gosto, não tem preço.Fico esperando o próximo capítulo.

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